quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Fechou o livro. Um gosto forte de vômito na garganta. Ventava e os papeis em cima da escrivaninha voavam pra todos os lados. Todas as suas personagens cavalgando nas costas do vento, dobrando-se pelo ar e caindo majestosamente ao pé da cama. Olhou para o teto. A chuva estava forte. Sua testa estava embaixo da goteira, plof, plof, plof. Levantou quando todo o rosto estava molhado, sentou na escrivaninha e digitou algumas palavras na máquina de escrever. [...] ". Amassou. Bebericou o café e depois jogou a xícara no chão. Não quebrou. O café espalhou por todos os lados. Colocou outra folha. Tinta vermelha. "Estou fedendo sangue, café, cerveja, cigarro. Estou fedendo você." Tinta preta. "Fedendo choro. Lágrima. Sal e suor. Não sou criação. Sou eu, sou viva, estou dizendo que estou agora chorando e vomitando e escrevendo. Será isso possível? Estou com a cara molhada. O café gelou. Está chovendo vento frio. O gosto ruim não sai da boca. Você precisa sentir. Sentir, amor. Amor, amor, amor..." Lixo. Recolheu os papéis do chão. Leu em voz baixa. "Senta, solidão, toma um café e se aquece. Essa casa fria vai ser seu lar por muito tempo..." "Invadiu a minha casa, minha alma, minha vida. E nem perguntou se podia ficar, foi se ajeitando ao meu lado na cama, foi trazendo uma roupa, outra... E foi embora tão abruptamente, deixou aquela sede de ser um alguém ao lado. De ter alguém ao lado. Levou todas as roupas, nada pra eu cheirar. Levou os cigarros, o dinheiro, o amor. Levou meu coração e estou aqui amando com os pulmões..." [...] . Comprou dois maços de cigarro. Fumou. Sentou na escrivaninha. "Parei de fumar. Faz dois anos. Parei mesmo, completamente, não ponho mais cigarro na boca. Nem maconha. Nada. Parei até de beber. Não, com o café não parei.Parei com uma porção de coisa. Parei de escrever. Não pego na máquina há um ano e meio. Não pego no lápis. Em nada. Parei de comer. Pareço um palito. Ainda bebo água, café. Suco não. Parei com o suco também. O corante, me fazia mal. Parei de andar... Ainda assim, não posso ser sua. Porque não parei com todos os vícios. Não parei de respirar, embora venha tentado o tempo todo e esteja quase conseguindo... E não parei de amar você. Nem tentei."[...] "Venho dizer que acabou, amor. Acabou pra mim, pra você, pra nós dois. Venho dizer que sou mentira, sou falsa, sou bicho. Sorte. Eu te amei amo amava. Com carinho, da sempre sua e de quem quiser, eu."
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Vai-te a merda, tu escreve muito bem.
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