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domingo, 28 de novembro de 2010

Preto e branco

Vejo as pessoas que caminham
sem nada no corpo, nada na alma
nada no coração
e me encho de uma vontade tola de dizer que te amo
que eu não sou essa pessoa vazia
que anda por ai sem fazer barulho
sem que ninguém note
por entre os carros das avenidas lotadas
furando os sinais, atravessando no vermelho
enquanto sei que você sabe que sou apenas isso
apenas essa parte solitária desse mundo apressado
apenas esse alguém vazio que quer encher-se de você
eu ando por ai, sabe, ando o tempo todo
tentando achar alguém em algum corpo perdido
que me remeta seu rosto, sua voz, seu sorriso
mas tudo que vejo, tudo que tem
são pessoas perdidas no próprio silêncio
gente correndo
ninguém mais quer saber dessa coisa, meu bem
essa coisa de amor que eu tenho aqui no meu peito
ninguém quer mais
acho que é porque dói
dói em mim também
mas eu tento fazer comum
como os carros que buzinam aqui embaixo da janela
como o barulho do trem nos trilhos
e as vozes vazias da televisão
querendo que eu compre, que eu veja, que eu venda, que eu vote
tento fazer com que a solidão seja essa coisa rotineira
quase como a morte
quase como um noticiário de fim de tarde
onde o apresentador dia após dia se revolta com a crueldade
com a maldade
mas no fundo no fundo já se acostumou
sabe, bem como eu
que fico aqui, me revoltando e remoendo a sua crueldade
a sua maldade de não estar ao meu lado
e no fundo, sei que meu corpo tem mais sede de tua ausência
que do seu toque que tanto anseio.

2 comentários:

  1. tentando achar alguém em algum corpo perdido
    que me remeta seu rosto, sua voz, seu sorriso... Que lindo!
    A admiro minha cara. Obrigada por dar "sentido" a minha escrita com seus comentários sobre ela.
    =D

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  2. A sua escrita é de uma beleza tão intensa! O texto triste na exata medida de falar de amor sem pieguice. Lindo, Natália.

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